segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Brasil, país de velhos - 2ª parte.

Ficar velho virou tabu. Uma das causas é a desistorização do tempo provocado pela ideologia neoliberal, de modo a nos incutir a noção grega de tempo cíclico, que neutraliza os projetos históricos e nos incute a idéias de perenização do presente; leia-se: fora do capitalismo a humanidade não tem futuro. Assim., todos queremos morrer jovens e esbeltos. É o elixir da eterna juventude em frascos de virtualidade...Haja malhação e cirurgias plásticas!

Na minha infância, criança era idade entre zero e 11 anos; adolescente, entre 11 e 18; jovem, entre 18 e 30; adulto, entre 30 e 50; velho, com mais de 50. Hoje, tem-se a impressão de que criança é de zero a 20 anos - quando se depende excesssivamente dos cuidados paternos; adolescentes, dos 20 aos 40, pela insegurança nas opções de vida; jovem, dos 40 em diante, ainda que se tenha 70 ou 90...

Ninguém quer ser chamado de velho. Crian-se eufemismos: a terceira idade, a dign/idade, a melhor idade(mentira, sou velho e tive a melhor idade entre 20 e 30 anos). Ora, se é para adotar um eufemismo realista, sugiro aos idosos se considerarem a turma da eterna idade - já que estamos próximos a ela.

A contradição é que, enquanto aumentam os direitos sociais dos velhos com mais de 65 anos - transporte coletivo gratuito, filas exclusivas, aposentadoria etc. -, reduzem-se os hábitos de respeito a eles. Raro ver um jovem ceder lugar no ônibus ou no metrô ao idoso ou mesmo ajudá-lo numa dificuldade na rua. Há dias, vi uma gerente de loja negar a uma senhora com mais de 80 anos o acesso ao banheiro.

Nada mais ridículo do que os idosos que se recusam a aceitar os sinais de velhice e buscam todo tipo de tratamento estético para encobri-los. Esquecem que jovialidade não é uma questão de aparência, e sim de cabeça. Conheço velhos gagás com apenas 30 anos e pessoas joviais com 92 anos, como é o caso de minha mãe, que lê dois jornais por dia, acompanha o noticiário televisivo e participa de movimentos de reflexão e solidariedade.

É preciso saber envelhecer com sabedoria. E os antigos, como Aristóteles, já nos prescreviam a receita: amizades, exercícios físicos, alimentação saudável e cultivo da espeirtualidade.

Envelhecemos irremedialvelmente quando deixamos de sonhar de olhos abertos.

Crônica publicada no jornal Brasil de Fato, de 22 a 28 de outubro/2009. Pág-02.

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