domingo, 2 de janeiro de 2011

Um ladrão de palavra!



Os bons ladrões

Morando sozinha e indo à cidade em um dia de festa, uma senhora de Ipanema teve a sua bolsa roubada, com todas as suas jóias dentro. No dia seguinte, desesperada de qualquer eficiência policial, recebeu um telefonema:
_ É a senhora de quem roubaram a bolsa ontem?
_Sim.
_ Aqui é o ladrão, minha senhora.
_Mas como o...senhor descobriu o meu número?
_Pela carteira de identidade e pela lista.
_ Ah, é verdade. E quanto quer para devolver meus objetos?
_ Não quero nada, madame. O caso é que sou um homem casado.
_ Pelo fato de ser casado, não precisa andar roubando. Onde estão as minhas jóias, seu sujeito ordinário?
_ Vamos com calma, madame. Quero dizer que só ontem, por um descuido meu, minha mulher descobriu quem eu sou realmente. A senhora não imagina o meu drama.
_ Escute uma coisa, eu não estou para ouvir graçolas de um ladrão muito descarado...
_ Não é graçola, madame. O caso é que adoro minha mulher.
_ E por que o senhor está me contando isso? O que me interessa são as jóias e a carteira de identidade(dá um trabalho danado de tirar), e não tenho nada com sua vida particular. Quero o que é meu.
_ Claro madame, claro. Estou lhe telefonando por isso. Imagine a senhora que minha mulher falou que me deixa imediatamente se eu não regenerar...
_Coitada! ir numa conversa dessas.
_ Pois eu prometi nunca mais roubar em minha vida.
_ E ela bancou a pateta de acreditar?
_ Acho que não. Mas o que eu prometo, cumpro; sou um homem de palavra.
_ Um ladrão de palavra, essa é fina. As minhas jóias naturalmente o senhor já vendeu.
_ Absolutamente, estão em meu poder.
_ E quanto quer por elas? Diga logo.
_Não vendo, madame, quero devolvê-las. Infelizmente, minha mulher disse que só acredita em minha regeneração se eu lhe devolvesse as jóias. Depois ela vai lhe telefonar para checar.
_ Pois fique sabendo que estou gostando muito de sua senhora. Pena uma pessoa de tanto caráter casada com um...homem fora-da-lei.
_ É também o que eu acho. Mas gosto tanto dela que estou disposto a qualquer sacrifício.
_Meus parabéns. O senhor vai trazer-me as jóias aqui?
_ Isso nunca. A senhora podia fazer uma suja.
_ Uma o quê?
_ A senhora, com o perdão da palavra, podia chamar a polícia.
_ Prometo que não chamo, não por sua causa, por causa de sua senhora.
_ Vai me desculpar, madame, mas nessa eu não vou.
_ Também sou uma mulher de palavra.
_ O caso, madame, é que nós, os desonestos, não acreditamos na palavra dos honestos.
_ Tá. Mas como o senhor pretende fazer, então?
_ Estou bolando um jeito de lhe mandar as jóias sem perigo para mim e sem que outro ladrão possa roubá-las. A senhora não tem uma idéia?
_ O senhor entende mais disso do que eu.
_É verdade. Tenho um plano: eu lhe mando uma flores com as jóias dentro de um pequeno embrulho.
_Não seria melhor eu encontrá-lo numa esquina?
_ Negativo! Tenho o meu pudor, madame.
_Mas não há perigo de mandar coisa de tanto valor por uma casa de flores?
_ Não. Vou seguir o entregador a uma certa distância.
_ Então, fico esperando. Não se esqueça da carteira.
_Dentro de vinte minutos está tudo aí.
_ Sendo assim, muito agradecida e lembranças para a sua senhora.

Dentro do prazo marcado, um menino confirmava que, em certas ocasiões, até os ladrões mandam flores e jóias.


Crônica - Paulo Mendes Campos

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