sábado, 20 de fevereiro de 2010

A poética sertaneja!

A elite social e política do Piancó comprimia-se na sala, animada, insone, sem regatear aplausos. O vigário, o juíz, o chefe político, todos escutavam, basbaques, os repentes destabocados do Poeta do Absurdo.

Súbito, Zé Limeira irrompe num improviso bombástico, supostamente intencional, que ecoou como uma agressão dirigida à sociedade local. A glosa foi anotada pelo padre Manoel Otaviano e por ele citada, por ocasião duma conferência que que proferiu em João Pessoa, dez anos depois, como senda a mais expontânea e irreverente da poética sertaneja. A glosa, pela extrapolação, pela força picaresca, pelo escândalo suscitado, torna-se-ia a mais famosa da obra limeiriana:


" O velho Thomé de Souza,
Governador da Bahia,
Casou-se e no mesmo dia
Passou a pica na esposa.
Ele fez que nem raposa:
Comeu na frente e atraz,
Chegou na beira do cais,
Onde o navio trafega
Comeu o Padre Nobréga,
Os tempos não voltam mais ".

 
Piancó/Pb, como as demais cidades do sertão surgiram de uma longa presença indígena. Terra povoada pelos Cariris, localizada em um vale de águas e fertilidades, de povo destemido, destroçados pela invasão do branco colonizador. O nome Piancó, não diria uma homenagem, mas uma referência ao chefe índigena que também denominou o nome do rio que banha todo o vale.


Fonte: Da obra de Orlando Tejo: Zé Limeira-Poeta do Absurdo-5ª edição-Coleção Machado de Assis-volume 38. Brasília-1980. Página 143.

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