terça-feira, 2 de abril de 2013

Mulheres do Brasil- 36ª- Grande amor e afeição carnal!



Mulheres que contribuíram com a formação e o desenvolvimento do Brasil.


Felipa de Souza ( c. 1556 ? ) Condenada pela inquisição por lesbianismo.


Nasceu em Tavira-Algarve, parte do império português, vindo para o Brasil em data ignorada. Filha de Fulana de Gonçalves e Manoel de Souza, era costureira e viúva de um pedreiro, sendo casada pela segunda vez com o padeiro Francisco Pires, com quem vivia em Salvador. Felipa de Souza era alfabetizada, fato extraordinário numa época em que era comum, principalmente entre as mulheres, não saber ler nem escrever.

Tinha 35 anos quando ocorreu a primeira visitação do Tribunal do Santo Ofício. Foi denunciada por práticas nefandas e presa em 18 de dezembro de 1591, confessando inúmeros casos com pessoas do mesmo sexo. Seu processo foi volumoso e envolveu mais de seis mulheres, pelas quais Felipa confessou sentir "grande amor e afeição carnal", tendo tido por companheiras a jovem Maria Peralta, por 8 anos,  Maria Lourenço, por 4 anos, Paula de Sequeira, por uma no, e Ana Fernandes.

Com cartas, presentes e outros expedientes, Felipa procurava aproximar-se das mulheres com quem se sentia atraída. Usava de estratagemas como fingir-se de doente, fazendo o marido levantar-se da cama para dar lugar a sua esposa enfermeira, com quem se deitaria; também iniciava encontros amorosos durante a missa ou em trocava abraços e beijos com sua vizinha por cima do muro.

Foi severamente punida pela inquisição. Em 24 de janeiro de 1592, foi retirada da Casa da Inquisição, no Terreiro de Jesus, sendo levada até  a Mesa Inquisitorial na Igreja da Sé, na Bahia. Descalça, vestindo uma túnica branca e com uma vela na mão, ouviu sua sentença e teve como pena o açoite público e o degredo para sempre da capitania. Recebeu, ainda, penitências espirituais. O fato de não ter utilizado instrumentos durante suas relações sexuais aparece na sentença como circunstâncias atenuante, o que indica que a pena poderia ter sido ainda mais rigorosa.

Após o julgamento, Felipa ficou ainda  quatro dias presa, mas não se sabe onde cumpriu a pena de degredo.

Por ter sido a mulher mais humilhada e castigada da colônia, como homenagem seu nome foi atribuído ao principal prêmio internacional de direitos humanos dos homossexuais, o "Felipa de Souza Award".


Fonte: Lígia Bellini, A coisa obscura: mulher, sodomia  inquisição no Brasil; Ronaldo Vainfas(org.), História e Sexualidade no Brasil e Trópicos dos Pecados.

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