domingo, 26 de julho de 2009

O que marca é a vida!

É com este sentimento afirmativo que registro o 19º ano do acidente automobilístico ocorrido no município de Jaçanã/RN, que vitimou 04 Homens, todos dirigentes do Partido Comunista do Brasil-PCdoB-RN. Alírio Guerra e Glênio Sá, faleceram ainda no local, sobreviveram, Antenor Roberto e Valdo Teodósio.


Alírio e Glênio: Diferentes e Iguais

Tive o privilégio de conhecer e conviver com Alírio e Glênio, duas personalidades que marcaram os anos e o início da reconstrução do PCdoB no RN. Diferentes na personalidade e iguais no compromisso e na causa que abraçaram voluntariamente e que dignificaram a luta e as tarefas até o momento final da trajetória da ação política.

Glênio Fernandes Sá, Potiguar, brasileiro, de Caraúbas, originário do médio oeste, líder estudantil secundarista nas terras alencarinas onde se filiou ao PCdoB, de onde saiu para integrar o contingente de Homens, Mulheres e Jovens, que sob a orientação do Partido e comando militar de Osvaldão, fizeram a resistência guerrilheira.

Com consciência, coragem patriótica e fervor revolucionário, compôs a Guerrilha do Araguaia, sendo ao final da luta de resistência preso, e um dos poucos sobreviventes do enfrentamento armado nas Selvas do Araguaia. É caraubense.

Alírio Guerra de Macêdo, Piauiense, originário de Curimatá, no sul do estado, foi seminarista, estudante de medicina, líder estudantil na Universidade Federal de Pernambuco, não chegando a concluir o curso, fruto da perseguição da ditadura que enfrentou e resistiu com bravura. Ingressou muito jovem no PCdoB. É curimatauense.


Em Caicó, o último contato

O último contato presencial que tive com Alírio e Glênio foi na tarde e noite de 25 de julho de 1990, na cidade de Caicó, onde se encontravam em atividade política de campanha eleitoral, Glênio estava na disputa na condição de candidato a Senador, e Alírio candidato a Deputado Estadual, ambos do PCdoB, que disputavam na coligação da Frente Popular.

Após o evento, fomos todos jantar no Bairro Barra Nova, e por volta das 21horas e 30 minutos, me dirigi a rodoviária Manoel de Nenem/Caicó, encarregado que fui de acompanhar Glênio que ia viajar, visto que no outro dia teria atividade política de campanha em Currais Novos/RN, ainda na região do Seridó.

Antes do embarque conversamos, como de costume recebi algumas orientações políticas, principalmente sobre a campanha, nos cumprimentamos-nos abraçamos, e tudo seguia normal, era o dia da tradicional Feirinha de Santana, em plena festa da Padroeira de Santana de Caicó, quando por volta das 16 horas do dia 26 de julho, recebi a notícia do acidente que vitimara os Camaradas.

Momento de dor e aflição, paralizado, mentalizando o ocorrido, senti as lágrimas rascaram o rosto que na noite anterior expressava contentamento e sorriso farto, motivado pela alegria de sempre encontrar as nossas principais referências de Partido e na luta política. Era increditável ouvir a notícia da morte de Alírio Guerra e Glênio Sá. Literalmente chorei na praça.


Dignidade e Caráter Revolucionário

Devo dizer que me sinto privilegiado de pertencer a uma geração de Comunistas formados no convívio da atividade política e na convicção das idéias que defendiam em defesa da Liberdade, da Democracia, do Socialismo, de uma Pátria Livre e Soberana, de uma sociedade desenvolvida e próspera para o nosso povo.

Se fosse possível definí-los, diria que são dígnos, honrados e merecedores não só de respeito, mas de reconhecimento do legado de lutas, da corajosa e honrada forma como se comportaram diante de seus algozes, dos algozes do povo e do seu Partido. Suportaram as torturas e enfrentaram a prisão com destemor e dignidade, tiveram firmeza de caráter e atitude revolucionária.

Permaneceram vermelhos, como a cor da bandeira do Partido que ajudaram a construir, e defenderam as suas idéias, mesmo em momentos que suas vidas estavam em perigo. Homens de têmpera firme. Firmes e flexíveis como a raíz da jaramataia no leito do rio caudaloso, que não se submete as suas águas e nem se amedronta com suas barreiras que limitam as margens e definem seu curso, mesmo que tortuoso segue seu destino, em rítmo determinado pelo tempo e pelas condições impostas pela natureza.


Sonho de Alírio e de Glênio

Não tenho dúvidas de que as lágrimas que verteram dos dirigentes, militantes, filiados, amigos e familiares, caíram em terras que se fertilizaram e se tornaram aptas a semear idéias que prosperam na perspectiva da construção de uma nova sociedade Socialista, de um forte e numeroso Partido Comunista, em solo pátrio. O 12º Congresso é o cenário em que o sonho pode se realizar.


Homens que plantavam o futuro

Alírio e Glênio, são cidadãos brasileiros, nordestinos, mais que isso, são Patriotas que consciente e destemidamente fizeram uma opção de vida política em defesa do Brasil, do Povo Brasileiro e de sua Soberania, defensores do Socialismo e entusiasta das idéias da Liberdade e do Partido Comunista, da organização dos trabalhadores, da Reforma Agrária e de uma sociedade baseada nos valores do trabalho e da solidariedade humana.


O Poeta e Camarada Vital Nogueira, assim relembra a memória, de Alírio e Glênio, dizendo:

Homens singelos, bravos lutadores

Em memória de Glênio Sá e Alírio Guerra:


Homens singelos,
bravos lutadores,
para quem a inevitabilidade do socialismo
não significava cruzar os braços,
congelar a teoria.

Abraçavam simples e complexas tarefas,
com a mesma convicção revolucionária,
porém, não se tratavam de super-heróis.
Eram homens simples
que se debatiam quotidianamente
com problemas própios de suas limitações de
homens.

No fogo da luta armavam-se de partido e povo
e açoitando limites,
plantavam futuro,
desfraldavam esperança.



Assim era a atividade e o testemunho de Alírio e Glênio.
Assim é a sua memória: Viva.


Alírio Guerra e Glênio Sá......................Presente!

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