Os fatos protagonizados recentemente em função da ignorância, da intolerância e da declarada estupidez, demonstram que mesmo num ambiente escolar, no caso uma "Universidade" é possível a prática de atos e atitudes bárbaras e de selvageria movidas por sentimentos que descaracterizam qualquer traço de civilidade.
Geyse Arruda, estudante do curso de turismo, é uma mulher, como tantas brasileiras, é jovem, cheia de esperança e sonhos, quase que interrompidos por uma orda de falsos moralistas. Resisto acreditar que a reação se deu simplesmente pelo fato de Geyse estar vestida com uma mini saia, peça vestuária comum as moças de sua idade e formação.
Feia ou bonita
Independente de ser bonita ou não, Geyse tem o direito legítimo de se vestir como lhe convém. É bem verdade, que ela não só pode, como aliás deve usar mini saia ou qualquer outro tipo de vestuário, pois é bonita e tem o que apresentar do ponto de vista da beleza física, e quem desejou olhar, na minha opinião não cometeu crime algum, é também um direito a ser exercido. O que não pode é ter atitude de desrespeito, violência e coação psicológica-constrangimento.
Muitos comentários, duas opiniões
Diversas foram as reações, desde especialistas em comportamento humano, social e mesmo em gente do povo, o cidadão comum, expressaram reações de repreensão ao fato ocorrido. Destaco assim, as seguintes opiniões:
" É uma reação à mulher e à autonomia sobre o seu corpo. Não se faz isso com rapazes sem camisa, com cueca para fora ou calças rasgadas ". Fátima Pacheco, é sociologa e diretora do Instituto Patrícia Galvão.
" Por um lado, a nossa cultura diz que a mulher tem que valorizar o corpo, afinal de contas, tem que ser bonita, tem que ser gostosa. Por outro lado, a mulher é punida quando assume tudo isso com tranquilidade ". Raquel Moreno, do observatório da Mulher. É psicologa.
Me senti em pecado
Os acontecimentos precipitados irresponsavelmente na Uniban(Universidade Bandeirantes em São Bernardo do Campo/SP), me fez relembrar as " Santas Missões " do Padrim Frei Damião de Bozano, conhecido pela sua pregação católica conservadora nas últimos décadas do século XX, no nordeste brasileiro. Lembro-me que saía do sítio poço/Almino Afonso/RN, levado pela minha mãe em companhia de meus irmãos para ouvir suas pregações, numa delas o religioso dizia que as mulheres que usavam brinco, baton, pintavam unhas e faziam sombrancelhas iam direto para o inferno, se fosse nos dias de hoje, o DNIT teriam que construir várias auto-estradas de acesso ao purgatório.
E dizia mais: os homens não devem olhar para as mulheres que vestem mini saia, pois se assim procederem também estarão no inferno. Na época, com pouco mais de seis anos perguntava inocentemente a minha mãe: mamãe o que é mini saia? mamãe prontamente me repreendeu, dizendo: menino cale a boca, pois você já está pecando só em querer saber o que é. Isso, sem mencionar o nome da peça objeto da discórdia e da tentação. Pode?
Somente muitos anos depois, é que soube o que era. Achei bonita e fiquei maravilhado, me senti em pecado, mas não tive como fechar os olhos, ou mesmo de me abster, de contemplar a beleza que mais tarde iria conviver com ela.
Esmorecendo o mercado
Eu não visto mini saia, mas adora mini saia. E você?
Parabéns a União Nacional dos Estudantes/UNE, aos movimentos sociais e aos diversos setores da sociedade e as mulheres pelos protestos e denúncias contra este ato criminoso, recheado de preconceito e falso moralismo.
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